Afinal, o que é saúde mental? Entenda em 4 pontos

por Instituto Cactus

05 de janeiro de 2022

6 min de leitura

Adolescentes Boas práticas e escala Mulheres Prevenção e promoção
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Muito tem se falado sobre saúde mental após a pandemia, mas ainda existe uma confusão em relação ao que isso significa. E é uma confusão compreensível porque, de fato, estamos falando do resultado de uma complexa interação entre aspectos individuais e as condições de vida.

Saúde mental não se refere apenas a uma dimensão individual, dependente de fatores biológicos e psíquicos, existe também uma dimensão coletiva, influenciada por determinantes sociais, fatores de risco e de proteção e acesso às ferramentas e práticas de cuidado.

Então, para entender o que é saúde mental em sua profundidade, precisamos considerar 4 pontos:

  1. Corpo e mente são uma coisa só. Sendo assim, nossa saúde deve ser cuidada de forma integral, não existe saúde mental só do pescoço para cima, nem saúde física só do pescoço para baixo;
  2. A saúde mental já ocupa, ainda que silenciosamente, todas as esferas da nossa vida, está no trabalho, nas conversas com a família, nos momentos de lazer e na internet… É transversal e nos acompanha desde o momento em que acordamos, até a hora que vamos dormir, todos os dias, de forma permanente: não estamos falando de um projeto com início, meio e fim. Precisamos cuidar da saúde mental todos os dias, de forma contínua e permanente, não existe a tal da “alta médica” para saúde mental;
  3. Nossa saúde integral é influenciada pelo acesso a serviços de saúde, educação, trabalho, serviços sociais e de justiça, entre outros, assim como é atravessada por exposição a violências e discriminação. Por isso a atuação em saúde mental deve ser intersetorial e integrar olhares de diversas especialidades e setores sociais; e
  4. A saúde mental não é apenas ausência de doenças, todo mundo passa por momentos de altos e baixos na vida e a saúde mental diz respeito à nossa capacidade de viver com qualidade em todos eles. E isso significa que devemos considerar ao longo da vida períodos de sofrimento e adversidade também, como parte da jornada humana.

Resumindo, saúde mental é resultado da complexa interação entre esses aspectos individuais e coletivos, as especificidades psíquicas e biológicas e as condições de vida, relações sociais, ambiente de crescimento e desenvolvimento, a inclusão produtiva e o acesso a bens materiais e culturais. Tudo isso tem a ver com saúde mental: estamos diante de uma questão muito ampla e extremamente central nas nossas vidas.

Quando pensamos em condições de saúde mental, estamos falando desde sofrimento psicológico de nível leve e adoecimentos mentais comuns até transtornos mais graves. Mas o que é importante ressaltar é que saúde mental não é necessariamente positiva ou negativa, ela é um contínuo e influencia a forma como lidamos com nossos sentimentos, sofrimentos e alegrias da vida, com as pessoas à nossa volta e com a nossa própria capacidade de interagir, em profundidade, com as nossas emoções.

Quando ela está bem, passamos pelas dificuldades da vida (comuns a todas as pessoas) de forma saudável, lidando com as adversidades e conseguindo estar com o outro, consigo, com o nosso corpo, sem “nos evadir”. Quando ela não está bem, os sofrimentos psíquicos podem se agravar e prejudicar diversas esferas da vida. E não só da pessoa envolvida, mas também de quem está à sua volta. Lembra da dimensão coletiva?

Reforçamos o conceito de que saúde mental não pode almejar somente o bem-estar e a qualidade de vida, sob o risco de gerarmos uma positividade tóxica e cairmos em uma visão funcionalista e individualista que propaga a ideia de que felicidade é uma escolha individual, algo que “só depende de você”, e faz com que as pessoas estejam sempre em busca de um estado de felicidade inalcançável. Precisamos reconhecer que, em saúde mental, a “inadequação” e o sofrimento também são parte.

Por isso, defendemos um conceito mais amplo de saúde mental: é a aptidão para estar, ser e conviver, que envolve diversos fatores como reconhecer as emoções, poder conviver em comunidade, poder estar consigo e com o outro. Faz parte da nossa forma de ser e estar no mundo, de conciliar ideias e sentimentos, de lidar com as tensões naturais da vida e permanecer saudável diante de cada uma delas. É sobre aprender e produzir de forma plena, aproveitando todo nosso potencial.

Se não depende só de cada pessoa, como podemos cuidar da saúde mental?

As medidas de isolamento social intensificaram o processo de adoecimento da população em todo mundo, mas não podemos tratar o colapso na saúde mental como um fenômeno recente. Estamos arcando com as consequências de anos de desatenção nesse campo. Para enfrentar essa questão, agora emergencial, precisamos antes de tudo reconhecer que esse é um desafio antigo, que já afetava milhões de brasileiros há muito tempo, e admiti-lo como um problema de saúde pública.

Até hoje, as políticas públicas de promoção e prevenção em saúde mental foram tímidas e limitadas para enfrentar um desafio desta dimensão. O direito à alimentação saudável e adequada, à moradia, saneamento básico, trabalho, educação, transporte, lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais são fatores determinantes e condicionantes para a efetivação do direito à saúde. Por isso, não podemos optar por soluções isoladas, que não considerem a intersecção com outras agendas sociais.

Precisamos de articulação em rede, envolvendo cada vez mais atores estratégicos e incluindo outros serviços e setores nesta conversa para que o direito à saúde mental seja efetivado e essa discussão ultrapasse os muros dos órgãos de saúde. Mas, apesar da responsabilidade ser compartilhada, temos que ter compromissos definidos e diretrizes estabelecidas para cada setor social para não criarmos barreiras de ação na tentativa de encaixar as estratégias nesse campo em “caixinhas”, de forma setorizada, ministerial ou mesmo temática.

Ao dar luz aos sofrimentos psíquicos e ampliar o debate sobre saúde mental em todos os lugares, vamos descobrindo estratégias individuais e coletivas para prevenção de doenças e promoção da saúde mental, com a criação de autonomia, de oportunidades que permitam a cada pessoa fazer escolhas e a participarem como protagonista do seu cuidado.

Estamos diante de uma questão ampla e complexa, um desafio coletivo. Começar a falar sobre saúde mental em todos os lugares, com todas as pessoas, é a melhor forma de começar a enfrentá-lo. No âmbito pessoal, podemos contribuir ampliando o debate e desconstruindo os estigmas que permeiam as condições de saúde mental, uma das maiores barreiras para avançarmos no tema.

No âmbito coletivo, precisamos integrar projetos e unir esforços para lidar com o desafio de pensar em outras formas de prevenir e tratar as causas e consequências dos sofrimentos psíquicos, e de promover a saúde mental, de forma interseccional e com olhares segmentados. Só assim faremos com que os cuidados com saúde mental se tornem uma prática comum, frequente e de fácil acesso para todas as pessoas.

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