Saúde mental no trabalho: o papel do investimento social privado e da filantropia

Falar sobre saúde mental no trabalho é uma necessidade coletiva. Os dados provam isso: em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais, o maior número dos últimos dez anos, segundo o Ministério da Previdência Social.
Por isso, não é exagero dizer que estamos diante de uma crise que afeta não só o bem-estar dos trabalhadores, mas também a economia: de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o absenteísmo causado por depressão e ansiedade custa globalmente US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.
É nesse contexto que o investimento social privado e a filantropia empresarial podem ajudar a construir novas perspectivas e dinâmicas de saúde mental no trabalho. O diferencial, aqui, é que essas frentes têm o potencial de impulsionar transformações estruturais, sustentadas por dados, escuta e cuidado.
A discussão atual é necessária porque, desde 2021, os afastamentos por motivos psicológicos vêm crescendo, com ansiedade e depressão à frente das causas. Entre as pessoas mais afetadas, estão mulheres por volta dos 40 anos, muitas delas responsáveis pela renda e pelo cuidado de suas famílias.
Sabemos que os transtornos mentais são multifatoriais. Mas, a depender da dinâmica e do ambiente de trabalho a que uma pessoa está sujeita, maior é o risco de adoecimento psíquico. Portanto, as empresas têm uma responsabilidade na condução do problema e também na facilitação de soluções.
É sobre isso que vamos falar agora: caminhos possíveis, compromissos compartilhados e o papel transformador que o investimento social privado pode assumir nessa conversa.
Saúde mental no trabalho é responsabilidade coletiva
A atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1) é uma demonstração de que casos de ansiedade e depressão no trabalho acenderam um alerta em diferentes esferas da sociedade. Agora, o Ministério do Trabalho reconhece a saúde mental como responsabilidade jurídica das empresas, passível de fiscalização e multa.
Veja abaixo exemplos de situações que, a partir de agora, devem estar no radar das empresas:
- Estresse ocupacional crônico;
- Síndrome de Burnout;
- Assédio moral;
- Carga mental excessiva;
- Isolamento no ambiente de trabalho;
- Exigência de hiperconectividade.
Não é incomum passar por momentos em que o trabalho atravessa a esfera pessoal, e vice-versa. Afinal, nunca é só trabalho: a empresa é também onde exercemos nossos talentos, construímos vínculos, sustentamos nossas famílias.
Por isso, quando o ambiente profissional é marcado por pressão constante, sobrecarga, falta de reconhecimento ou insegurança psicológica, ele deixa de ser um espaço de realização e passa a ser um fator de adoecimento.
“A cultura do ‘sempre estar ocupado’ e do silêncio sobre sofrimento emocional favorece o burnout e enfraquece os vínculos no trabalho. Romper com esse padrão exige liderança empática, letramento psicoemocional e estratégias reais de cuidado”, afirma Maria Fernanda Quartiero, diretora-presidente do Instituto Cactus, em entrevista ao GIFE.
E, no caso das mulheres, os desafios se acumulam: dupla jornada, disparidade salarial, sobrecarga emocional e violência de gênero tornam o ambiente de trabalho um reflexo de desigualdades que vão além do escritório.
Pensar em saúde mental no trabalho, portanto, exige uma abordagem que também considere equidade, inclusão e segurança como partes indissociáveis do cuidado.
Mas, se a dimensão humana já seria motivo suficiente para agir, há também uma motivação estratégica que vale mencionar. Ambientes psicologicamente seguros são mais inovadores, produtivos e sustentáveis, segundo uma pesquisa do McKinsey Health Institute, em colaboração com o Fórum Econômico Mundial.
Além disso, a mesma pesquisa mostra que empresas que priorizam saúde mental reduzem o absenteísmo, retêm talentos, fortalecem o engajamento e constroem uma cultura de confiança.
O resultado, portanto, aparece não só na qualidade de vida das pessoas, mas também nos indicadores de negócio, na reputação da marca e na longevidade das equipes.
Por isso, o Instituto Cactus afirma que estimular um ambiente de trabalho saudável não é só uma ação de responsabilidade social, mas uma escolha inteligente para crescer com consistência e humanidade. O investimento social privado e a filantropia empresarial podem ser de grande valia nessa missão.
Investimento social privado e filantropia empresarial: caminhos para mudanças sustentáveis
Diante desse quadro de aumento de afastamentos e mudanças na NR-1 como tentativa para reduzir o absenteísmo, é natural que as empresas estejam buscando soluções para enfrentar o desafio. Mas há outras forças atuando a favor do bem-estar coletivo, como investimento social privado e filantropia empresarial.
Essas iniciativas, lideradas por organizações do terceiro setor, conseguem articular diferentes atores da sociedade, gerar dados e evidências e impulsionar mudanças de longo prazo, com sustentabilidade.
Em vez de atuarem apenas como resposta às crises, podem ser catalisadoras de transformações estruturais, capazes de influenciar políticas públicas, inspirar novas práticas corporativas e apoiar decisões mais conscientes e baseadas em dados.
Um exemplo é o Panorama da Saúde Mental. Idealizado pelo Instituto Cactus, trata-se de uma ferramenta estratégica de monitoramento contínuo da saúde mental da população brasileira com mais de 16 anos.
Realizado de forma semestral e em parceria com a AtlasIntel, o estudo oferece dados abertos e acessíveis que ajudam a compreender os desafios emocionais enfrentados por diferentes grupos, territórios e faixas etárias no país.
Para as empresas, o Panorama pode ser uma ferramenta valiosa de inteligência. A partir dele, é possível identificar tendências, compreender vulnerabilidades específicas da força de trabalho, desenvolver políticas internas mais eficazes e alinhar práticas de gestão ao que os dados apontam como prioridade em saúde emocional.
Além disso, os insights gerados pelo Panorama também fortalecem o diálogo com o poder público, alimentam estratégias de advocacy e ajudam a consolidar a saúde mental como um tema central no debate sobre desenvolvimento social e econômico.
Promover saúde mental no trabalho é um compromisso que precisa ser compartilhado. Sociedade, empresas e governo têm papéis complementares nessa construção, que vai muito além do cuidado individual.
Da mesma forma que já entendemos a importância da saúde física para a saúde e performance no trabalho, é hora de dar à saúde mental o mesmo lugar de prioridade. Isso passa por criar ambientes mais humanos, apoiar políticas públicas consistentes e usar dados e evidências para tomar decisões mais justas e conscientes.
Se você quer continuar se informando sobre a atuação do Instituto Cactus na prevenção de doenças e cuidados em saúde mental, leia nosso blog ou acompanhe nas redes sociais.