Eleições 2026: por que eleger mulheres importa para a saúde mental do Brasil?

por Instituto Cactus

31 de outubro de 2025

4 min de leitura

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Por Maria Fernanda Resende Quartiero* e Patrícia Marcelino**

As eleições 2026 se aproximam e, com elas, a escolha de quem ocupará cargos estratégicos no Executivo e no Legislativo, em nível federal e estadual. Esse momento representa muito mais do que selecionar candidatos, é o momento de decidir quem terá o poder de estabelecer prioridades, alocar recursos e interpretar as principais demandas da população brasileira. Para que essas decisões reflitam a diversidade e a complexidade do país, é fundamental contar com um corpo político marcado pela presença efetiva de mulheres. Essa transformação vai além da justiça representativa: a participação feminina na política traz uma perspectiva capaz de influenciar positivamente as decisões diárias da gestão pública.

No campo da saúde mental, dados da terceira coleta do Panorama da Saúde Mental, do Instituto Cactus e Atlas Intel, revelam diferenças importantes na forma como homens e mulheres percebem esse tema. As mulheres apresentaram um índice menor no ICASM (Índice Contínuo de Avaliação de Saúde Mental), o que pode indicar uma percepção de comprometimento mais acentuada dos impactos emocionais no cotidiano. 

Essa diferença também se expressa em outras dimensões, como nos impactos das redes sociais, e na preocupação com temas coletivos. Os dados sugerem que experiências vividas pelas mulheres podem contribuir para uma percepção mais atenta das condições que afetam a saúde mental coletiva. Quando esse olhar é incorporado aos espaços de decisão, aumenta-se as chances de que políticas públicas sejam desenvolvidas de maneira a refletir a realidade da população e os desafios cotidianos que muitas vezes passam despercebidos.

As eleições 2026 e a representatividade feminina para decisões sensíveis. 

O relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016: Transformando economia, concretizando direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que, quando mulheres alcançam presença significativa em espaços de decisão, há uma reorientação das prioridades políticas, com maior atenção a temas historicamente ligados ao cuidado, à convivência e ao fortalecimento do apoio comunitário — como saúde, educação, nutrição e proteção social, fundamentais para a promoção da saúde mental. Além disso, a representatividade feminina contribui para decisões mais sensíveis a demandas como o enfrentamento de violências, o reconhecimento da sobrecarga do cuidado e a construção de serviços públicos mais acessíveis e adequados às diferentes realidades.

Entretanto, o cenário da participação feminina nos espaços de poder ainda é bastante restrito em todos os níveis e esferas da federação. Apesar do avanço gradual na eleição de mulheres para o Congresso Nacional desde a redemocratização, menos de um quinto dos parlamentares eleitos na última legislatura são mulheres – com 107 deputadas (17,7%) e 16 senadoras (19,8%). Essa realidade se repete nas Assembleias Legislativas estaduais: das 1.059 cadeiras disputadas em 2022, apenas 190 foram conquistadas por mulheres (18%). No âmbito municipal, um levantamento do Mapa da Desigualdade Eleitoral Municipal revelou que, das 58.446 vagas para vereadores, apenas 10.654 (18,2%) foram ocupadas por mulheres nas eleições de 2024, e que 737 municípios sequer elegeram uma vereadora. A disparidade é ainda mais acentuada no Poder Executivo: nas eleições mais recentes, apenas 2 das 27 governadoras eleitas foram mulheres, e 732 das 5.532 prefeituras foram conquistadas por mulheres.

Precisamos aumentar a participação concreta das mulheres dentro dos espaços de poder, incentivando candidaturas femininas e removendo barreiras para sua atuação política. Mas, para que essa representatividade se traduza em avanços concretos na promoção da saúde mental, é essencial que as eleitas para cargos de decisão assumam um compromisso ativo com a saúde mental das mulheres. Isso inclui a promoção de fatores de proteção específicos para mulheres e meninas, implementação de modelos de atenção que considerem as necessidades particulares delas, com protocolos adequados e formação qualificada para os profissionais de saúde, garantindo acolhimento integral e articulação intersetorial,  principalmente em fases sensíveis, como o pré-natal e o pós-parto.

Programas que atendam às múltiplas dimensões da vida das mulheres

Outro ponto essencial é assegurar que os recursos orçamentários priorizem programas direcionados a esse público, incorporando as demandas das mulheres de forma transversal em todas as políticas públicas. Dessa maneira, o compromisso político com essas ações não apenas fortalece a saúde mental, mas contribui para uma agenda mais atenta às múltiplas dimensões da vida das mulheres.

Para além da implementação dessas ações concretas, é imprescindível que as mulheres que já ocupam espaços de poder pautem a saúde mental como uma agenda prioritária e compromisso inegociável com os princípios de boa governança e colaboração. Isso significa garantir a pluralidade de ideias, o diálogo aberto e a troca construtiva entre diferentes visões, elementos essenciais para a formulação de políticas públicas que sejam legítimas, inclusivas e efetivas. Esse engajamento também envolve fortalecer o espaço cívico e promover a participação social ampla e diversa, assegurando que as vozes das mulheres e meninas, frequentemente sub-representadas, sejam ouvidas e consideradas de forma qualificada nos processos decisórios. É assim, com diálogo, diversidade e engajamento, que construiremos uma agenda forte, capaz de transformar realidades e promover a saúde mental em prol de toda a sociedade.

* Maria Fernanda Resende Quartiero é fundadora e diretora-presidente do Instituto Cactus, é uma investidora social com mais de 20 anos de experiência em filantropia e impacto social.

** Patrícia Marcelino é coordenadora de projetos do Instituto Cactus, bacharel em psicologia e mestranda de políticas públicas, com experiência no terceiro setor e impacto social. 

 

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