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8 dados sobre a saúde mental das mulheres
voltarNeste Dia Internacional de Luta das Mulheres aproveitamos a data para dar luz a um assunto muito importante para nós, aqui no Instituto Cactus: a saúde mental das mulheres.
Já falamos algumas vezes por aqui que, mesmo que o sofrimento psíquico seja comum a todas as pessoas, os impactos são diferentes para alguns grupos. Isso porque quando falamos em saúde mental é preciso considerar os determinantes sociais que atravessam o tema, como acesso à educação, moradia, alimentação, trabalho, transporte, cultura, entre outros. Com a pandemia, as desigualdades sociais foram agravadas e a saúde mental das mulheres especialmente afetada.
Por isso é necessário ter olhares segmentados para a saúde mental e priorizar alguns grupos que merecem atenção e cuidado de forma mais atenta. Não podemos pensar soluções únicas, que tratem da mesma forma sofrimentos que têm atravessamentos diferentes, precisamos propor abordagens específicas para cada público para promover, de forma adequada e assertiva, a cultura de promoção e prevenção em saúde mental.
Na impossibilidade de atacar todos os problemas de uma única vez de forma efetiva e consistente, elegemos adolescentes e mulheres como públicos prioritários para focar nossas ações aqui no Instituto Cactus. Elas são as principais responsáveis por práticas de cuidado, predominando em categorias como educadoras, enfermeiras, assistentes sociais, entre outras, além de referências em seus núcleos familiares. São importantes vetores de mudança e têm recebido uma atenção insuficiente quando o tema é saúde mental.
Entendemos que as mulheres trazem questões relevantes que merecem ser priorizadas na compreensão e abordagem da saúde mental. Para ilustrar esse argumento, elencamos 8 dados sobre a saúde mental das mulheres, todos disponíveis no levantamento Caminhos em Saúde Mental, que lançamos em 2021 em parceria com o Instituto Veredas. Confira:
1) Prevalência em condições de saúde mental: segundo dados uma em cada cinco mulheres apresenta Transtornos Mentais Comuns (TMC) e a taxa de depressão é, em média, mais do que o dobro da taxa de homens com o mesmo sofrimento, podendo ainda ser mais persistente nas mulheres. A prevalência de condições de saúde mental é maior nas mulheres e isso vai muito além da perspectiva biológica. Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, o gênero implica diferentes suscetibilidades e exposições a riscos específicos para a saúde mental, por conta de diferentes processos biológicos e relações sociais. Ser mulher perpassa papéis, comportamentos, atividades e oportunidades que determinam o que se pode experimentar ao longo da vida e, portanto, estabelece vivências estruturalmente diferentes daquelas experimentadas pelos homens.
2) Sobrecarga e trabalho: apontada como um dos principais fatores que deixam as mulheres especialmente vulneráveis aos sofrimentos psicológicos, a sobrecarga física e mental de trabalho é um enorme desafio. Em mulheres com alta sobrecarga doméstica, o número de mulheres com TMC vai de 1 a cada 5 mulheres para 1 a cada 2 mulheres. A baixa qualidade do emprego que atinge diversas mulheres, com predomínio da informalidade, do caráter temporário e da precariedade dos vínculos, também pode gerar temor e ansiedade, cenário que pode piorar quando somado ao trabalho em casa, onde as mulheres têm de administrar o trabalho remunerado e tarefas domésticas. Além disso, padrões irregulares de carreira, tempo fora do mercado de trabalho para cuidar dos filhos e para o trabalho de casa, licença maternidade, doenças físicas e questões de saúde mental podem afetar a percepção sobre a disponibilidade e compromentimento da mulher, sobre a qual se baseiam muitas contratações, levandoà discriminação e exclusão do mercado de trabalho.
3) As diferenças começam ao “nascer mulher” e os impactos se arrastam por toda a vida: é durante o período da adolescência que as normas de gênero são consolidadas e com isso se intensifica a discriminação de gênero. Normas de gênero podem limitar a capacidade das meninas de viajar ou frequentar a escola, os lugares em que podem ir ou o tipo de interações sociais que podem ter, além de limitar as expectativas do que podem ter, a forma de tratamento, as possibilidades, poder e recursos. As meninas são mais propensas do que os meninos a se casarem quando crianças, a abandonar a escola e a experimentar iniciação sexual forçada. As meninas que se casam antes dos 18 anos ou engravidam precocemente podem encontrar menos oportunidades de educação e emprego remunerado, menor capacidade de tomada de decisões e maior risco de violência por parceiro íntimo.
4) Suícidio e automultilação: os dados anteriores impactam também os dados sobre tentativas de suicídio – mulheres são duas vezes mais propensas. 65 mil pessoas morrem por suicídio por ano nas Américas, com taxa acima de 7 pessoas para cada 100 mil habitantes. No Brasil, estudos recentes apontam que as maiores taxas de crescimento de suicídios estão entre mulheres e nas regiões nordeste e norte, além de haver importante ocorrência entre indígenas. Em relação à violência autoprovocada, entre 2011 e 2018, o Brasil apresentou quase 340 mil notificações. Desse total, 45% dos episódios foram observados em jovens entre 15 e 29 anos, sendo 67% deles em mulheres. Em sociedades em que o acesso à educação sexual, a contracepção e o aborto seguro são limitados, as meninas que engravidam fora do casamento podem acreditar que autoagressão ou suicídio são suas únicas alternativas.
5) Racismo: a discriminação racial afeta a saúde mental de pessoas negras e, quando pensamos em mulheres negras, soma-se a discriminação de gênero e temos um contexto de dupla opressão. Como consequência, elas podem internalizar as características negativas que lhes são atribuídas, prejudicando a autoestima, e o sentimento de inferioridade gerado pode prejudicar as relações sociais, favorecendo o isolamento, o que muitas vezes é confundido com timidez ou agressividade. Também podem desenvolver transtornos de ansiedade e depressão, os quais podem se desdobrar no suicídio.
6) Violências contra mulheres: a saúde mental das mulheres também pode ser impactada por serem vítimas de violência psicológica, física, sexual e institucional, resultado de uma gama de práticas sociais e culturais machistas. Mulheres que foram expostas a violências na infância parecem apresentar maior risco para revitimização na vida adulta, não raro apresentando episódios depressivos, de ansiedade, estresse ou relações prejudiciais com a alimentação e drogas. Quase 30% das meninas adolescentes entre 15 e 19 anos relatam violência física e/ou sexual ao longo da vida por um parceiro íntimo e têm mais chances que os meninos de serem infectadas por HIV. Mulheres vitimadas por parceiros íntimos podem reproduzir comportamentos violentos e, potencialmente, sofrem posterior exclusão social, assim como julgamentos baseados no gênero, o que dificulta o acesso ao acolhimento em saúde. Em algumas culturas, mulheres e meninas, comumente são expostas à violência e práticas como contracepção, aborto e esterilização forçados.
7) Estigmas e medicalização: A falta de compreensão e a fragmentação nos serviços de saúde é um desafio importante nos cuidados em saúde mental das mulheres. Os profissionais admitem que nos atendimentos, no geral, as mulheres se calam sobre a violência de gênero, ao mesmo tempo em que intensificam a procura por serviços de saúde, sendo estereotipadas como “poliqueixosas”. Arquétipo que, além de prejudicar as estratégias de tratamento, é também uma forma de violência institucional contra mulheres, que muitas vezes enfrentam o estigma no próprio processo de tratamento. Ser mulher é um preditor para receber mais prescrições de medicações psiquiátricas que atuam sobre o humor, inclusive em doses excessivas, que podem ocasionar outras queixas de saúde.
8) Em crises, elas também são mais impactadas: A crise provocada pela pandemia de Covid-19 agravou muito esse cenário. Com a perda da renda e o aumento da desigualdade de renda e de acesso a serviços, os efeitos da crise socioeconômica na saúde mental são ainda piores para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Com o isolamento social, a disparidade de gênero, a violência doméstica e a sobrecarga das mulheres aumentaram, ao mesmo tempo em que as redes de suporte diminuíram. Todas essas consequências da crise sanitária afetam de forma ainda mais relevante a saúde mental das mulheres.
>> Quer saber mais sobre esses dados? Baixe o levantamento Caminhos em Saúde Mental na íntegra
Enfoque estrutural para atuar cuidar da saúde mental das mulheres
Todos esses dados nos mostram que para cuidar da saúde mental das mulheres não podemos pensar soluções únicas, que tratem da mesma forma sofrimentos que têm atravessamentos diferentes, precisamos criar processos adequados e propor abordagens específicas para cada público para promover a cultura de promoção e prevenção em saúde mental. Isso passa, necessariamente, pela construção de políticas públicas e intervenções sociais que garantam direitos e o pleno acesso a todas as pessoas.
Nesse sentido, os relatórios das Conferências Nacionais para Políticas para Mulheres apontaram diversos eixos a serem observados pelas políticas públicas para melhorar as condições de vida e de saúde mental das mulheres, muitos dos quais ainda são negligenciados pelas políticas desenvolvidas nacionalmente. Destacamos algumas dessas diretrizes abaixo:
Onde cuidar da saúde mental?
Sabendo que se vincular ao processo psicoterapêutico pode ser um desafio para pessoas em situação de vulnerabilidade, precisamos investir e apostar em modalidades que viabilizem o acesso a esses serviços.
Como exemplo de intervenção em saúde mental da população negra, no Instituto Cactus apoiamos um projeto de acolhimento psicológico emergencial para mulheres negras, indígenas e periféricas em parceria com a Casa de Marias, organização de escuta e acolhimento. O projeto foi desenvolvido entre agosto de 2021 e janeiro de 2022 e a equipe da Casa de Marias acolheu, de forma completamente gratuita, 140 mulheres nos serviços de atendimento psicológico.
Este ano, compilamos algumas iniciativas (serviços, projetos e organizações) no município de São Paulo, com atendimento gratuito ou com valores sociais. Com a pandemia, muitas iniciativas que ofereciam serviços presenciais adequaram seus atendimentos para o formato remoto, por isso a ferramenta inclui diversas iniciativas remotas, ou seja, acessíveis para pessoas de qualquer cidade.
A planilha de serviços em saúde mental* é mais uma iniciativa do Instituto Cactus para pavimentar os caminhos da saúde mental no Brasil, reduzir os estigmas, qualificar o debate e democratizar as formas de cuidado. A democratização do acesso aos cuidados em saúde mental é um dos nossos pilares de atuação: trabalhamos para que todas as pessoas, independente da idade, gênero ou condição social, tenham garantidos o pleno direito de acesso à saúde mental, fundamental para melhorar a qualidade dos serviços e transformar as práticas de cuidado no tema.
Confira e compartilhe com sua rede de contatos! E se você conhece e recomenda algum serviço que ficou de fora, conte pra gente aqui nos comentários e nos ajude a alimentar a ferramenta 🙂
* O Instituto Cactus não possui vínculo com a maioria das iniciativas mapeadas, com exceção de algumas organizações com as quais nos relacionamos no desenvolvimento de projetos e/ou articulação em rede. Para mais informações sobre os serviços, é necessário contatar diretamente as organizações e iniciativas responsáveis.